sábado, 13 de junho de 2009

"Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas" - Comentários

Os comentários a seguir são tecidos sob a percepção de uma mera espectadora. De maneira alguma, intenciona-se aqui fazer uma crítica de cinema – até porque não tenho méritos para isso. Esse comentário é o resultado de um exercício proposto em uma das aulas do curso livre “Cinema e... Redação”, ministrado por Fátima Gigliotti, na Cenapec [1]. O tema da aula em questão era conseguir perceber a voz própria do autor, seja ela falada ou escrita, seu desenvolvimento, manifestação e recepção.


O ato de contar histórias – sejam elas verídicas, inventadas ou uma mistura de ambos os aspectos; baseadas na própria vivência ou nas experiências alheias – faz parte do cotidiano das pessoas e isso ocorre devido à necessidade intrínseca ao ser humano de se comunicar e de se desenvolver como um ser social. Evidentemente, cada pessoa pratica esse ato de forma particular e subjetiva: umas utilizam-se mais da realidade, outras, da fantasia e criatividade.

Como não poderia deixar de ser, é para atender a essas necessidades que eu também conto histórias! Esse ato – não só para mim, mas para todas as pessoas, acredito eu – dá-se principalmente através da fala. Porém, é através da escrita que consigo não só escolher a melhor palavra como também encontrar o melhor encadeamento das frases esperando, assim, construir uma comunicação mais eficiente. Nas minhas histórias, escolho a realidade em detrimento da fantasia mas, nem por isso, elas são isentas de um olhar subjetivo. Essa é a forma de desenvolvimento e de manifestação da minha voz própria.

E o “(...) encontrar a própria voz como escritor significa (...) sentir-se inteiramente livre dentro da própria pele. É uma grandiosa libertação. No entanto, a única maneira de se chegar a isso é por meio de minuciosa (...) atenção aos detalhes [2]: ‘Uma frase nasce para o mundo ao mesmo tempo boa e ruim. O segredo está em uma ligeira e quase imperceptível torção ...’”[3].

A voz própria também se manifesta através da palavra falada e, por isso, como poderíamos identificar a voz própria de Edward Bloom, ao ouvi-lo contar suas histórias?

Para Edward Bloom, protagonista do filme Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, a prática de contar histórias é algo muito além da necessidade de relatar um acontecimento: Edward apóia-se na fantasia em detrimento da realidade e, dessa forma, consegue não só recriar o acontecimento sob seu ponto de vista particular, como também busca manipulá-lo com a intenção de o fazer adquirir uma conotação heróica, excêntrica, excepcional... Livrando-o, assim, da banalidade.

É lógico pensar que para cada voz deve existir um modo de como o ouvinte aprende a escutar essa voz e reagir a ela [4]. Logo, é possível observar que no filme cada ente da família de Edward “ouve” as histórias e “reage” a elas de forma subjetiva: Will Bloom, filho de Edward, acredita que o pai não consegue suportar a realidade entediante que o cerca. Para Josephine, nora do protagonista, o sogro apenas possui uma visão romântica dos acontecimentos. Já Sandra, a esposa de Edward, sabe que as histórias, embora pareçam, não são totalmente inventadas.

Para mim, Edward se permite ter um olhar poético sobre a sua própria vida. Quando era garoto, adquiriu esse privilégio no momento em que a bruxa lhe mostra, através de seu olho mágico, quando e como ele morreria. Resolvido esse questionamento – fonte de grandes angústias e amarras para a maioria dos seres humanos – ocorreu a sua libertação. Alforriado dessa angústia, o protagonista pôde viver intensamente e com grande liberdade suas experiências. É somente por usufruir dessa liberdade que Edward encontra, desenvolve e manifesta a sua voz própria da maneira que a reconhecemos no filme.

Notas

1. Cenapec – Associação Centro Auxiliar de Pesquisas Culturais/ Biblioteca Adir Gigliotti é uma associação cultural sem fins lucrativos, reconhecida como de Utilidade Pública pela Prefeitura de Campinas e Ponto de Cultura Nacional. Sediada em Campinas, Rua São Salvador, 301, Taquaral, www.cenapec.org.br.

2. A. Alvarez. A Voz do Escritor. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006, p. 45.

3. Babel, citado em A. Alvarez. A Voz do Escritor. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006, pp. 45-46.

4. A. Alvarez. A Voz do Escritor. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006, p. 9.

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